Outro dia perguntei para uma pessoa próxima quais eram suas 3 principais qualidades e os seus 3 piores defeitos. A pessoa pensou, e respondeu: “Olha, não sei te dizer assim de bate pronto.” Se eu lhe fizesse esta mesma pergunta, você saberia responder? (Por Carol Soré)
Essa é uma reflexão aparentemente simples, mas que a maioria das pessoas tem muita dificuldade em responder. Entretanto, se eu perguntar quais as qualidades e defeitos de sua mãe, irmão, marido ou esposa, talvez, você não tenha a mesma dificuldade. Por que será que falar dos outros é mais fácil do que falar de nós mesmos?
Podemos pensar em algumas possibilidades, como talvez, uma certa vergonha de admitir nossas qualidades, pois pode parecer um pouco presunçoso; ou até mesmo uma auto critica tão intensa que fica praticamente inviável admitir qualidades, pois sou tão imperfeito, que não tenho quase nenhuma qualidade. Ou um certo receio de admitir meus defeitos, porque se admito, logo, crio um problema. Não tem como saber ao certo porque cada indivíduo possui dificuldades em identificar suas próprias características, mas uma razão bastante frequente, é a falta de autoconhecimento.
O Autoconhecimento, assim como qualquer outro tipo de conhecimento/habilidade, é necessário a prática, a repetição, o hábito, e claro, o desejo. Conhecermos a nós mesmos é fundamental para nosso bem estar, não só na vida pessoal, mas como na carreira e no dia a dia do trabalho.
Conhecer nossos gostos, aptidões, fraquezas, fortalezas e limites, é primordial para podermos ser conscientes de nossas escolhas. Quantas vezes caímos em situações que havíamos jurado que não íamos mais nos deixar acontecer. É muito comum cometermos erros repetitivos, nos magoar, ou magoar os outros pelos mesmos velhos motivos. E a única maneira de tentar mudar, fazer diferente e melhorar nossas escolhas, é através do autoconhecimento. Se você sabe do que gosta, do que não gosta, do que quer, do que aceita, do que não tolera, e sabe suas qualidades e defeitos, ou seja, se você realmente se conhece, tomará decisões e fará escolhas mais alinhadas com quem você realmente é.
Impacto Profissional
No mundo do trabalho, o autoconhecimento também tem um papel extremamente importante. Já é comprovado que para obter sucesso e satisfação profissional temos que fazer o que gostamos e estar em um ambiente confortável. Se você trabalha em uma empresa, e quer ter uma vida duradoura neste lugar, é preciso se identificar com a cultura, com as pessoas, com as regras e políticas. Até conseguimos trabalhar em um lugar que odiamos, mas não seremos felizes com isso. No dia a dia, e com o tempo, fica muito pesado e difícil permanecer, por isso, quanto mais próxima a cultura da empresa está aos seus princípios pessoais, mais saudável e sustentável será essa relação. Inclusive, com os colegas de trabalho, pois constantemente precisamos ter discussões difíceis e lidar com situações estressantes; e quando sabemos nossos limites, podemos evitar uma série de comportamentos que depois serão mal avaliados. Ninguém gosta daquela pessoa que altera o tom de voz, que faz comentários maldosos, ou que não entrega no prazo e não se compromete. Podemos evitar tudo isso simplesmente observando a nós mesmos. Temos que saber dizer não e negociar, quando sabemos que não conseguiremos entregar a tarefa naquele prazo. Temos que saber dizer não, quando aquele projeto não tem nada a ver com você e não te engajará. Temos que saber ficar em silêncio, quando percebemos que estamos nervosos e talvez passando do limite.
Reconhecer nossas fraquezas e fortalezas é vital para a vida e para nossas relações, sejam elas familiares, profissionais, amorosas e/ou de amizades. E devemos também estar atentos aos outros, para saber se faz sentido se envolver com aquela pessoa ou com aquela instituição. Se você está trocando de emprego ou pensando sobre isso, avalie a empresa aonde está cogitando ir, olhe as postagens nas redes sociais, tente conversar com alguém que trabalha lá, faça perguntas ao recrutador, e seja fiel a você na entrevista.
Se o recrutador lhe pedir para que você conte sobre você, conte! Provavelmente ele também está tentando avaliar se você terá aderência com aquele lugar; quanto mais verdadeiro você for, melhor para todos. E se você não sabe o que dizer, o que pode ou não, o que é apropriado ou não, mencione os principais aspectos de sua vida. Se é casado, solteiro, se tem filhos ou não, o que gosta de fazer no tempo livre, seus hobbies, se gosta de esporte, cinema ou gastronomia et
Como melhorar e desenvolver meu autoconhecimento
Para finalizar proponho um exercício de auto reflexão, leva cerca de 15 minutos e você precisará segui-lo passo a passo. Não leia até o final, faça cada passo por vez.
- Pegue um papel e uma caneta, ou se preferir seu celular ou notebook.
- Pense em suas 5 principais qualidades e seus 5 principais defeitos.
- Agora, pense em exemplos de como você percebe que essas características são boas e como você percebe que são ruins. Para o exercício ser eficaz, pense em um exemplo para cada característica.
- Pense agora em pelo menos 2 elogios recorrentes que você recebe, e em 2 críticas/reclamações recorrentes. Pode ser de pessoas da família, amigos, ou do trabalho. Se não consegue pensar em nada, mande mensagem para as pessoas perguntando 2 qualidades e 2 defeitos seus, diz que está fazendo um exercício e precisa da ajuda deles.
- Agora, pense em situações na sua vida que acontecem com frequência e que você não quer mais que se repitam. Por exemplo: perder o prazo do relatório, ou perder a paciência com o colega x do trabalho, ou discutir sobre x assunto com meu marido/esposa.
- Reflita agora no porquê essas situações acontecem, como VOCÊ contribui para elas e como VOCÊ pode agir nas próximas vezes para mudar esse padrão.
Este exercício é somente um primeiro passo, para ilustrar quão difícil é pensar sobre nós mesmos, e o quanto é necessário esforço e dedicação para nos conhecermos e entender o porquê agimos como agimos. Reflita sobre as respostas, compare as qualidades e defeitos que você identificou em si, com as que as pessoas identificaram em você. Analise seus comportamentos e tente entendê-los, perceba se existem gatilhos para desencadear certas reações. Siga desenvolvendo seu autoconhecimento, leia livros, se possível faça um curso, observe seus comportamentos e sempre reflita sobre eles. A psicoterapia também é uma excelente ferramenta para esse processo!
A conquista de autoconhecimento não é algo fácil. De início pode ser desagradável e frustrante. Mas, quando você começa a perceber o poder que adquirimos quando reconhecemos, principalmente, nossas fraquezas, você verá o quão importante isso é. Perceberá o poder que você terá em suas mãos para controlar coisas que antes você achava que nada podia fazer. É importante lembrar que leva tempo e dedicação, entretanto muito sofrimento poderá ser evitado, você aprenderá a aceitar suas imperfeições, estar mais satisfeito com você mesmo, e assim alcançar mais bem estar e qualidade de vida.
“Autoconhecimento serve para que eu ganhe potência, vitalidade, energia e competência no exercício de minha existência”
